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Em uma concepção de mundo em que o universo é concebido como uma série de átomos, não temos motivos para temer a morte. A visão epistemológica materialista de Epicuro, herdada de Demócrito e Leucipo, sugere que a Natureza é formada por dois princípios essenciais: os átomos e o vácuo.

Em um dinamismo constante, para o filósofo de Samos, as partículas fundamentais de número e combinações infinitas, precisariam de espaço para se movimentarem. A pluralidade da forma e do peso dos átomos engendraria assim a diversidade e diferença dos objetos que ocupam o universo, inclusive de nós – seres humanos.

Da constante mobilidade dos átomos, Epicuro encontra explicações sobre a vida e sobre a morte. E é sobre esta última que te convidamos a refletir a seguir.

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Não há motivos para se temer o não-ser

Como dizíamos, para Epicuro, os átomos estão sempre em movimento e constituem todos os objetos do mundo. No humano, corpo e alma são formados por átomos grossos e delicados respectivamente, os quais se dão em um movimento e transformação incessante.

Na mobilidade, os átomos podem perder ligações ou aglutinarem-se. Quanto mais o entrelaçamento atômico se desfaz, mais a vida se perde e, assim, quando as ligações se dão por dilaceradas, dizemos que a morte chegou. Com o desfalecimento do ser vivo, os átomos continuam o seu movimento dinâmico para a construção de novas formas de vida.

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Segue daí, que as partículas chamadas de indivisíveis não são corruptíveis em si mesmas, mas, por se darem em um constante devir, são o fundamento mesmo do nascer e do fenecer de toda e qualquer associação.

Na perspectiva do epicurismo, a alma é formada por átomos, portanto, tal qual o corpo fenece a alma se dissolve. Quando um indivíduo morre, não só o seu organismo deixa de ser, mas a sua alma também se esvai, visto que não pode continuar a existência sem a presença de um corpo. Entende-se assim que, segundo Epicuro, a imortalidade da alma é impensável.

Não à toa, dirá o filósofo de Samos que, considerando que a morte é a privação das sensações e da consciência, não devemos de modo algum temê-la, visto que quando ela estiver, nós já não estaremos. No fenecimento – na privação da vida – não pode existir dor física e emocional, logo: 

“[…] a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos.” (EPICURO, Carta sobre a felicidade, p.29).

A morte para Epicuro: uma lição!

Embora represente o fim da vida, a concepção de morte para Epicuro nos faz refletir que todo medo e receio que pode existir acerca do destino de nossa alma no pós-vida é infundado, afinal, ao colapsar juntamente com o corpo, à alma não cabe salvação, tampouco punição. Nesse sentido, qualquer preocupação com o além-vida é desnecessária.

E assim, a consciência clara do que consiste a morte nos convida à busca da fruição plena de nossa vida efêmera tal qual ela é, sem que se acompanhe o desejo da imortalidade, tampouco o medo da finitude, pois a vida é maravilhosamente perfeita em sua brevidade. 

Considerando que não temos motivos para se pensar a morte, exceto à maneira estoica – memento mori – celebremos a vida e seus prazeres enquanto ela estiver. Aliás, o que você tem feito para vivê-la em sua integridade no pouco tempo que te cabe?

Gabriel Mello

Sou doutorando em Letras e mestre em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá. Valendo-me da alma inquieta de um filósofo e dos despropósitos de um menino que carrega água na peneira, escrevo sobre as grandes questões e temáticas da Filosofia e da Literatura.

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