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O eterno retorno é um conceito filosófico desenvolvido pelo pensador alemão Friedrich Nietzsche. O filósofo afirma que o universo e o que nele existe, incluindo cada ser humano e cada ato, se repete infinitamente, de forma idêntica.

A ideia do eterno retorno pode parecer absurda ou assustadora à primeira vista. No entanto, Nietzsche argumenta que ela pode ser um poderoso instrumento para nos ajudar a viver melhor.

Em outras palavras, o eterno retorno de Nietzsche é um teste decisivo para a capacidade de um indivíduo de afirmar a vida. Sua reação à perspectiva de viver cada momento de sua vida repetidas vezes em sequência é, para o filósofo, uma medida crucial de sua capacidade de se tornar quem você realmente é.

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O que é o Eterno Retorno?

É na penúltima seção de “A Gaia Ciência” que Nietzsche apresenta sua ideia do eterno retorno – pensamento que lhe ocorreu, relata em seus cadernos, enquanto estava em uma de suas caminhadas epifânicas pelos Alpes Suíços. Oferecendo sua ideia como um experimento mental, Nietzsche escreve:

“E se algum dia ou noite um demônio entrasse em sua solidão mais solitária e lhe dissesse: ‘Esta vida que você vive agora e já viveu terá de ser vivida mais uma vez e inúmeras vezes; e não haverá nada de novo nela, mas cada dor e cada alegria e cada pensamento e suspiro e tudo o que é indescritivelmente pequeno ou grande em sua vida deve retornar a você, tudo na mesma sucessão e sequência – até mesmo esta aranha e este luar entre as árvores, e até mesmo este momento e eu mesmo. A eterna ampulheta da existência é virada de cabeça para baixo repetidas vezes, e você com ela, grão de poeira!”

O filósofo alemão segue este quadro de repetição sem fim com um questionamento:

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“A pergunta em tudo e em cada coisa: “Você quer isso de novo e inúmeras vezes mais?” recairia sobre suas ações como o maior dos pesos! Ou quão bem disposto você teria que se tornar em relação a si mesmo e à vida para não desejar nada com mais fervor do que essa confirmação e esse selo eterno?”

Em outras palavras, se você descobrisse que cada momento de sua vida, todas as suas alegrias, todas as suas dores, cada onda de excitação e cada longo dia de tédio, iriam ocorrer em sequência de novo e de novo, iriam se repetir por toda a eternidade, como você reagiria? Você ficaria satisfeito? Você ficaria arrasado? Isso impactaria como você viveu o resto de sua vida? 

O Eterno Retorno: seríamos capazes de ‘afirmar’ acontecimentos terríveis?

Podemos nos perguntar como poderíamos afirmar algo como a morte prematura de um ente querido ou amigo, ou um acidente trágico que ceifa a vida de centenas de pessoas, mas talvez a chave aqui seja ver tais situações como essenciais para a jornada que estamos fazendo. Em suma, como se dor e sofrimento desempenhassem papéis inevitáveis ​​em um belo todo.

O ponto do eterno retorno nesta visão é que a vida tomada como um todo, é afirmada – não neste instante ou naquele, mas em sua inteireza. Como um filme ou romance brilhante, ela terá seus altos e baixos e seus dramas – esse equilíbrio é o que a torna bela.

Assim, poderíamos pensar que a grande função da teoria do eterno retorno é nos desafiar a viver uma vida que valha a pena ser repetida. Se tudo o que fazemos se repetirá infinitamente, devemos nos perguntar se estamos dispostos a viver a mesma vida, com os mesmos erros e acertos indefinidamente.

Este desafio nos força a refletir sobre as nossas prioridades e valores. Se não estamos dispostos a viver a mesma vida novamente, é porque algo está errado com ela. Dessa forma, uma vez que nos perguntemos: “estaria eu disposto a viver essa vida outra vez, repetidas vezes e para sempre?”, teríamos a possibilidade de pesar nossas ações e alinhá-las com uma vida que valha a pena ser revivida para todo o sempre.

Além disso, ao lado do amor fati, o eterno retorno nos motiva a viver uma vida plena e propositada. Se todas as coisas que fazemos se repetirá infinitamente, devemos aproveitar ao máximo cada momento. Afinal, a morte não tem previsão de chegada.

Mas e você, ao olhar para o espelho da consciência e ver refletidas a sua frente todas as suas ações e todos os acontecimentos que viveu até hoje, estaria disposto a viver essa vida repetidas vezes? Se curtiu este post, não deixe de navegar pelas nossas demais publicações aqui no site. Com certeza uma reflexão filosófica está à sua espera.

Gabriel Mello

Sou doutorando em Letras e mestre em Filosofia pela Universidade Estadual de Maringá. Valendo-me da alma inquieta de um filósofo e dos despropósitos de um menino que carrega água na peneira, escrevo sobre as grandes questões e temáticas da Filosofia e da Literatura.

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