Hilda Hilst nasceu em Jaú, interior de São Paulo, aos 29 de abril de 1930. Hilda de Almeida Prado Hilst, seu nome de batismo, foi filha única de Apolonio de Almeida Prado Hilst – fazendeiro, poeta, jornalista e ensaísta – e Bedecilda Vaz Cardoso. Alguns anos após o nascimento da escritora, seus pais se divorciaram e Hilst ficou aos cuidados da mãe na cidade de Santos, também interior de São Paulo.
Estudou no Colégio Interno Santa Marcelina, na grande São Paulo, por oito anos, recebendo ocasionalmente visitas da mãe. Esse período ficou marcado na história de Hilst, como é possível notar a forte influência religiosa não somente em sua vida, mas também em seus escritos.
Seu pai foi internado numa clínica de psiquiatria aos trinta e cinco anos, diagnosticado com esquizofrenia. Devido a este acontecimento, Hilst teve pouca presença paterna. A figura paterna ficou somente na lembrança e nos textos que o pai publicava nos jornais e dos quais Hilst lia com vontade, afinal, a figura de seu pai estava ali, naquelas palavras. Aos dezoito anos cursou Direito na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo.
Morava em um apartamento acompanhada de Dona Maria, uma governanta alemã, à Alameda Santos e passou a ter uma vida boêmia, estando à frente da sociedade da época.
Vida literária: como tudo começou?
Foi numa tarde de lançamento de novo livro que Hilst entrou no meio intelectual, ao homenagear e saudar a escritora Lygia Fagundes Telles, que viria a ser sua maior amiga. Todos que se encontraram na Loja Mappin para ouvir o discurso de Hilst foram seduzidos pela escritora.
A filha de seu Apolonio e dona Bedelcida tinha uma beleza exótica, era inteligente e ousada para a época em que se encontrava. Sua independência, excentricidade e opiniões controversas mais tarde lhe renderiam a alcunha de bruxa da casa do sol.
A estreia na carreira se deu quando, em 1950, lançou o livro de poemas “Presságio”. Em 1954, decidiu abandonar a carreira de bacharel em direito e demite-se do escritório em que trabalhava para dedicar-se somente à literatura. Sérgio Buarque de Holanda tece uma crítica à obra hilstiana recém lançada.
Com uma análise muito atenta à sintaxe da poeta estreante, o crítico elogia a facilidade e naturalidade na linguagem empregada pela poeta e observa um tom experimentalista na poesia hilstiana, contudo recomenda que tal tendência ao experimentalismo sirva ao proveito consciente e não ao “desgoverno da expressão e da forma”.
Isolamento, literatura e morte
Em 1957, após concluir o curso de direito, faz uma viagem à Europa, conhece Espanha, França, Itália e Grécia. Sua produção literária segue um fluxo e seu papel no meio intelectual se intensificou.
Depois de ganhar de presente um livro de um escritor grego, Hilst muda bruscamente sua vida e sua escrita. Decide deixar a tumultuada capital paulista para dedicar-se integral e isoladamente à literatura.
Em 1966, seu pai morre e Hilst muda-se definitivamente para o sítio Casa do Sol, hoje, sede do Instituto Hilda Hilst, onde viveu reclusa com o escultor italiano Dante Casarini. Numa quinta-feira de 2004, Hilda, que estava hospitalizada no Hospital das Clínicas da Unicamp por conta de uma fratura no fêmur, não resiste às intervenções médicas e vem à óbito.
Além da poesia, Hilst dedicou-se também à dramaturgia e à prosa. Ganhou diversos prêmios, publicou mais de 40 títulos, teve inúmeras traduções e cinco décadas de intensa produção artística. Hilda Hilst: setenta e três anos de vida e mais de cinquenta dedicados somente à literatura.
Obras notáveis de Hilda Hilst
Agora que já conhecemos a história de Hilda Hilst, uma das maiores escritoras brasileiras do século XX, conheça a seguir as suas principais obras, as quais marcaram seu nome no cânone da literatura feminina.
1. Do Desejo
“Do desejo” é um livro de poesia de Hilda Hilst publicado em 1992. A obra reúne sete livros de poesia, escritos entre 1986 e 1992. Os poemas de “Do desejo” exploram temas como a sexualidade, a espiritualidade, o amor, a morte e a vida. A obra é marcada por um estilo lírico e sensual, que utiliza uma linguagem imagética e simbólica para expressar os sentimentos do eu-lírico.
2. Cantares de Perda e Predileção
Em “Cantares de Perda e Predileção”, Hilda Hilst transcende as convenções poéticas, explorando temas como a brevidade da vida, a perda e as escolhas que moldam nosso destino. Seus versos penetrantes convidam os leitores a refletir sobre as complexidades da existência, e nos mostrando que o preço de amar é perder.
3. A Obscena Senhora D
“A Obscena Senhora D” consiste em um livro de Hilda Hilst publicado em 1982. A obra narra a história de Hillé, uma mulher de 60 anos que, após a morte do marido, se vê sozinha e mergulhada em um processo de luto e reflexão sobre a vida.
A obra é narrada em primeira pessoa por Hillé, que usa uma linguagem hermética e truncada para expressar seus pensamentos e sentimentos. Mas vale a ressalva: ao escolher se aprofundar nas reflexões da Senhora D não espere descrições que acompanhem um fluxo temporal linear, mas esteja preparado para um mergulho em um caótico fluxo de consciência.
4. O Caderno Rosa de Lori Lamby
Este romance provocativo mergulha nas complexidades da sexualidade e identidade. A protagonista, Lori Lamby, é uma personagem fictícia criada por Hilda Hilst, que nos oferece uma narrativa inusitada e provocante.
A obra é narrada em primeira pessoa por Lori Lamby, uma menina que decide se prostituir, com o consentimento dos pais. O livro foi um sucesso de vendas, mas também foi alvo de polêmicas. Alguns críticos acusaram-no de ser obsceno. Outros, no entanto, elogiaram a obra pela sua coragem e pela sua relevância social.
5. Cartas de um Sedutor
Neste livro epistolar, Hilda Hilst constrói uma narrativa por meio de cartas trocadas entre um homem e uma mulher. Desse modo, a obra é narrada em primeira pessoa por Karl, um homem rico, amoral e culto, que busca a explicação para sua incompreensão da vida através do sexo.
O livro é dividido em vinte cartas, dirigidas a Cordélia, a casta irmã de Karl. Nas cartas, Karl relata suas experiências sexuais com mulheres de todas as classes sociais.
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